terça-feira, 10 de maio de 2016

Corrida!

Em uma direção qualquer, andava numa pressa tal que quase era difícil acompanhar em pensamento os meus próprios passos, um estado de corpo corrente que além de produzir grosseiros esbarrões nas pessoas que cruzavam o caminho me traziam a sensação de atraso. Na medida em que seguia caminhante, aumentava a velocidade e sentia os pingos de suor se formarem no canto direito da testa. Escorriam por entre o rosto, passavam pelo pescoço até acomodar-se na região do peito - que a esta altura sentia a pressão do coração pulsante.

A sensação de estar atrasado me produzia um estado de ansiedade que me fazia aumentar mais os passos.  Em poucos minutos me percebi correndo contra o tempo. Corria pelas vielas da cidade, subindo e descendo escadarias, cortando caminho por galerias...  Com o crânio pesado em direção ao chão, sentindo o calombo das costas, num quase semicírculo de corpulentas “paletas”. Caí.

Foi um tropeço que assustou a agigantada correria. Ali permaneci por alguns segundos sentindo o corpo cansado e quente, sentei. A respiração ofegante fazia eu notar a euforia, mas os passos continuaram longos nos pensamentos até que a sensação de atraso fosse lentamente transformando-se em culpa. Embora não houvesse absolutamente nenhum compromisso que justificasse o sentimento, estar ali parado no chão, me conduziu para o que não queria sentir. Mas foi inevitável, insuportavelmente inevitável! E então passei da euforia para uma letargia nostálgica e profunda.

Após alguns minutos, solapado de minha correria sem destino final, impedido de chegar a tempo em lugar algum, um nó em forma de punho fechado se formou na garganta e começou a soquear o estômago. Tão logo percebi que o tropeço era o meu ponto final, trombei com a angústia e a culpa se foi!

Ematuir Teles de Sousa
10/05/2016