Da
janela passei a observar as carregadas nuvens acinzentadas, os clarões
iluminavam toda a vizinhança e anunciava o estrondo que viria segundos depois, pássaros
rodeavam de um lado a outro, as fortes rajadas de vento levantava a poeira de
terra seca causada pelo dia de sol intenso. Os pingos começaram pouco a pouco,
mas os que caiam, eram fortes e grandes, era visto que uma grande tempestade
estava por se formar, fechei a janela e os pingos engrossaram batendo forte no
vidro, formando uma espécie de lama escorrida pela poeira presente.
Estava
no quarto andar do apartamento e imaginei um raio me atingindo e me usando de
fio terra, me afastei um pouco pelo receio de que meus pensamentos pudessem ter
o poder de atrair o que imaginara, mas durou pouco a fantasia grandiosa e
voltei a me aproximar, não ligando para a água forte resolvi abrir e sentir no
rosto aquela tempestade, mais forte do que aquela que se passava em mim não
poderia ser!
A
chuva grossa me molhou rapidamente, mas não liguei, queria mais, mais e mais...
Eu subi na janela e fiquei sentado esperando que meu corpo todo pudesse se
encharcar, na verdade o que queria era que aquela aguaria toda lavasse o que eu
sentia.
Mas
não lavou, na verdade as duas tempestades se misturaram e fizeram furacões de
mim, me senti o fio condutor responsável por mesclar ambas. Comecei a brincar
de pêndulo com meu corpo e levava-o para frente e para trás vagarosamente, ali
de cima, sentado à janela, não me passava pela cabeça cair, mas eu ouvi uma
pessoa que tentava se proteger da chuva lá embaixo gritar: – sai daí, você está
louco!
E
espontaneamente envolto de estrondos e clarões, pensei: - o que é a loucura? O
rapaz de guarda-chuva parado na calçada de baixo, teimava: – Saia dai rapaz, ou
irei chamar a polícia! Então, percebi que o fato de estar sentado na janela do
quarto andar fazia de mim um delituoso, mas a que eu estava infringindo?
Logo,
um grupo de pessoas se formou, paradas lá embaixo fizeram espetáculo de mim: -
Não faça isso, você é muito jovem! – Gritavam! Passei a entender o delito,
aquelas pessoas achavam que eu iria me jogar da janela e por alguns segundos eu
tive a atenção que buscava. Estavam querendo me preservar de mim mesmo e
acreditaram nas suas verdades formuladas a partir do meu encantamento
tempestuoso, esqueceram de aproveitar a linda paisagem que aquela tempestade
trazia. Eu com toda minha lucidez gritei: – Só estou curtindo a paisagem! Virei
o centro das atenções, mais, mais e mais... Além de ser o fio condutor da tempestade de
mim mesmo e da tempestade natural, fui transformando-me na tempestade da vida
daquelas pessoas! E novamente pensei: - O que é a loucura?
Comecei
a sentir um prazer enorme no que estava acontecendo, fiquei de pé na janela e
me insinuei na cena que criamos! Quis deixar aquelas pessoas contentes, pois fizeram
o esforço de parar suas tempestades e unirem-se as minhas, ficamos por um tempo
no desespero ambíguo entre ver/ser um corpo estendido no chão e o desejo que a
cena se desenrolasse! Voltei o corpo para traz e de súbito saí da janela, espiei
o grupo seguindo seu rumo, embebidos de água grossa da chuva, balançavam a
cabeça de um lado a outro negativamente. Senti que os frustrei. Entendi minha
loucura!
Ematuir
Teles de Sousa
28/09/16