terça-feira, 27 de setembro de 2016

Cacos


Aquele sopro na barriga que ninguém deseja sentir toca o abdômen,

Vai e vem incessantemente como estilhaços que, quando cravados na pele, rasga de mansinho,

Até me mantenho paradinho para não sentir!

Mas, vou sendo cortado pelo movimento involuntário de respirar,

 Ar que me mantém vivo é o mesmo que movimenta os cacos pelo corpo,

 Repetidas e pequenas dores me convencem que não há o que fazer, a não ser sentir,

Até que o os cacos sejam expelidos no seu tempo...


Ematuir Teles de Sousa

21/12/2016

Tanto Frio


Hoje acordei frio
Com frio!
Frio e calculista – de não sentir!
Frio e sentimentalista  - de sentir!
Pesado frio
Sinto muito, frio!

Conjeturo ausências
Ausências de calor
Como a falta
A falta de lenha
No fogão a lenha!
Lenha!

Corpo que para...
PARA-LISA
Tremo!
Por frio ex-tremo
Temo!
Para! aquecer

Tomei pedras de gelo
 Iceberg no estômago
Indigesto, sem gesto!
Estático!


Degelo
Escorro
Corre! Corre!
Um banho
De água fria
Que desperta
Aperta!

Ematuir – 21/09/16


(Des)integrar-se

Flor despetalada,
Encurvada,
Quase caída...
Esticada em réstias de luz!
Clama paralisia ao tempo,
Para que em tempo,
Desflore em calorosos feixes de sol...
Segundos ritmados,
Seguem banais!
Empurrados, puxados,
Em milésimos transparentes,
Flor mais desflorescida
Em penumbras frias da noite,
Com raízes putrefeitas,
Em terras enrijecidas,
Acostada em solo,
Em companhia de suas folhas secas,
De partes de si mesma, secas!
Lançada a recordações mil,
Dos verdes que outrora foi,
Sentiu!
Abraçou chorando chão...
Deitou-se, enfim, se desfez flor
(Des)integrou-se,
Seu próprio fim!

Ematuir Teles de Sousa
27/09/2016

Tempestade



Da janela passei a observar as carregadas nuvens acinzentadas, os clarões iluminavam toda a vizinhança e anunciava o estrondo que viria segundos depois, pássaros rodeavam de um lado a outro, as fortes rajadas de vento levantava a poeira de terra seca causada pelo dia de sol intenso. Os pingos começaram pouco a pouco, mas os que caiam, eram fortes e grandes, era visto que uma grande tempestade estava por se formar, fechei a janela e os pingos engrossaram batendo forte no vidro, formando uma espécie de lama escorrida pela poeira presente.

Estava no quarto andar do apartamento e imaginei um raio me atingindo e me usando de fio terra, me afastei um pouco pelo receio de que meus pensamentos pudessem ter o poder de atrair o que imaginara, mas durou pouco a fantasia grandiosa e voltei a me aproximar, não ligando para a água forte resolvi abrir e sentir no rosto aquela tempestade, mais forte do que aquela que se passava em mim não poderia ser!
A chuva grossa me molhou rapidamente, mas não liguei, queria mais, mais e mais... Eu subi na janela e fiquei sentado esperando que meu corpo todo pudesse se encharcar, na verdade o que queria era que aquela aguaria toda lavasse o que eu sentia.

Mas não lavou, na verdade as duas tempestades se misturaram e fizeram furacões de mim, me senti o fio condutor responsável por mesclar ambas. Comecei a brincar de pêndulo com meu corpo e levava-o para frente e para trás vagarosamente, ali de cima, sentado à janela, não me passava pela cabeça cair, mas eu ouvi uma pessoa que tentava se proteger da chuva lá embaixo gritar: – sai daí, você está louco!
E espontaneamente envolto de estrondos e clarões, pensei: - o que é a loucura? O rapaz de guarda-chuva parado na calçada de baixo, teimava: – Saia dai rapaz, ou irei chamar a polícia! Então, percebi que o fato de estar sentado na janela do quarto andar fazia de mim um delituoso, mas a que eu estava infringindo?

Logo, um grupo de pessoas se formou, paradas lá embaixo fizeram espetáculo de mim: - Não faça isso, você é muito jovem! – Gritavam! Passei a entender o delito, aquelas pessoas achavam que eu iria me jogar da janela e por alguns segundos eu tive a atenção que buscava. Estavam querendo me preservar de mim mesmo e acreditaram nas suas verdades formuladas a partir do meu encantamento tempestuoso, esqueceram de aproveitar a linda paisagem que aquela tempestade trazia. Eu com toda minha lucidez gritei: – Só estou curtindo a paisagem! Virei o centro das atenções, mais, mais e mais...  Além de ser o fio condutor da tempestade de mim mesmo e da tempestade natural, fui transformando-me na tempestade da vida daquelas pessoas! E novamente pensei: - O que é a loucura?

Comecei a sentir um prazer enorme no que estava acontecendo, fiquei de pé na janela e me insinuei na cena que criamos! Quis deixar aquelas pessoas contentes, pois fizeram o esforço de parar suas tempestades e unirem-se as minhas, ficamos por um tempo no desespero ambíguo entre ver/ser um corpo estendido no chão e o desejo que a cena se desenrolasse! Voltei o corpo para traz e de súbito saí da janela, espiei o grupo seguindo seu rumo, embebidos de água grossa da chuva, balançavam a cabeça de um lado a outro negativamente. Senti que os frustrei. Entendi minha loucura!

Ematuir Teles de Sousa
28/09/16

sábado, 18 de junho de 2016

Saída!

Hoje me vi tentando sair a todo custo de casa, convocando amigos para sair e festar, resolvi mandar mensagens para amigas e amigos, alguns que já conheço há tanto tempo e outras que conheci a pouco, mas que pretendo alimentar uma amizade duradoura. Foram aproximadamente 15 pessoas, que pelo WhatsApp e Facebook, resolvi entrar em contato. Algumas me respondiam rapidamente que não poderiam ir, outras que não estavam afim (sinceridade que a amizade de anos permite), outras justificaram dizendo não poderem ir por conta de seus compromissos com estudos e outras visualizaram, mas não retornaram. E assim segui por algumas horas em busca de companhia para uma saída. (imagine que “companhia para uma saída” esteja grifado e escrito ao lado: grifos meus). E então, depois de algumas horas, vi-me debatendo em busca de não sustentar a minha própria companhia. Decidido então a transpor-me desta percepção, resolvi que iria sozinho.  Escolhi uma roupa bonita e me perfumei. Mas imediatamente me vi olhando para o celular e para o computador em busca de possíveis respostas aos meus convites (imagine que “possíveis respostas” esteja também grifado, grifos meus). Um dos amigos convidados respondeu a minha solicitação, mas deixou dúbia a possibilidade de sair e... como amigo que conhece as diferentes formas de expressão um do outro, logo percebi que poderia ser um blefe! E não acreditei muito. Me vi sentado no sofá da sala arrumado e perfumado , solitário. E então pensei que o jeito era encontrar a saída perfeita em minha própria companhia e quem sabe formular as respostas que gostaria nesta relação comigo mesmo (nem preciso dizer que esta frase toda é para estar grifada, grifos mais que meus). E ali permaneci por alguma horas com o fone de ouvido, curtindo músicas e a coreografia do meu corpo paralisado por não saber mais como dançar comigo mesmo (e por frio) De vez em quando me dava vontade de sair daquele tumulto todo que foi crescendo no avançar das horas e me levantava para ir ao banheiro arrumar o penteado, também ia até a cozinha beber água, para que não ficasse bêbado de mim. Mas, logo voltei ao sofá e por ali fiquei mais um tempo até que resolvi voltar a uma mensagem, uma daquelas enviadas a um dos amigos na tentativa desesperada da saída: “si usted no tiene ningún papel para escribir allá, será registrada en el cuerpo... su cuerpo va a ser como el papel y su experiencia será como pinturas, una obra inacabada que puede volver cuando quiera”. Esta mensagem em tom de poesia e em outra língua era por que o referido amigo conversava em tom poético e em espanhol... Enfim, somente neste momento percebi que a minha tentativa de convencer as outras pessoas a saírem, foi uma forma de evitar este encontro com as pinturas de minha experiência, com mais obras que se iniciam, no qual os grifos são meus! 

Ematuir Teles de Sousa - 19/06/2016

terça-feira, 10 de maio de 2016

Corrida!

Em uma direção qualquer, andava numa pressa tal que quase era difícil acompanhar em pensamento os meus próprios passos, um estado de corpo corrente que além de produzir grosseiros esbarrões nas pessoas que cruzavam o caminho me traziam a sensação de atraso. Na medida em que seguia caminhante, aumentava a velocidade e sentia os pingos de suor se formarem no canto direito da testa. Escorriam por entre o rosto, passavam pelo pescoço até acomodar-se na região do peito - que a esta altura sentia a pressão do coração pulsante.

A sensação de estar atrasado me produzia um estado de ansiedade que me fazia aumentar mais os passos.  Em poucos minutos me percebi correndo contra o tempo. Corria pelas vielas da cidade, subindo e descendo escadarias, cortando caminho por galerias...  Com o crânio pesado em direção ao chão, sentindo o calombo das costas, num quase semicírculo de corpulentas “paletas”. Caí.

Foi um tropeço que assustou a agigantada correria. Ali permaneci por alguns segundos sentindo o corpo cansado e quente, sentei. A respiração ofegante fazia eu notar a euforia, mas os passos continuaram longos nos pensamentos até que a sensação de atraso fosse lentamente transformando-se em culpa. Embora não houvesse absolutamente nenhum compromisso que justificasse o sentimento, estar ali parado no chão, me conduziu para o que não queria sentir. Mas foi inevitável, insuportavelmente inevitável! E então passei da euforia para uma letargia nostálgica e profunda.

Após alguns minutos, solapado de minha correria sem destino final, impedido de chegar a tempo em lugar algum, um nó em forma de punho fechado se formou na garganta e começou a soquear o estômago. Tão logo percebi que o tropeço era o meu ponto final, trombei com a angústia e a culpa se foi!

Ematuir Teles de Sousa
10/05/2016

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Tô... Tô... Tô...  
No risco do rascunho dos meus rastros tempo... 
No topo do agora de rabisco corpo... 
Riscando linhas de traçados senso.  
Num arriscado ponto de dispersos nós, feito de riscos...

Ematuir Teles de Sousa - 14/10/15