Ouvindo
Maria Bethânia na madrugada,
Despertei
um outro em mim,
Um
alguém que ainda não sei,
Que
ainda não conheço a voz,
Nem
sei se conhecerei;
Mas,
cochichou algumas palavras,
Palavras
feitas de pele,
De
contato com tato,
Que
agora brotam de um mim,
Feito
de pedaços de outros;
Incrustrados
nos órgãos,
Revestidos
de olhar,
Olhar
feito de brilhos,
Resolve
brincar de pinçar memórias.
Algumas
inventadas,
Que
estranhamente não são minhas;
Brinca
de segurar meu peito em mãos de cristais,
Deita
sob os vazios dos porvires,
Fica
de pé, pula e rodopia,
Deixa
pegadas de aqui e agora,
Torce
e retorce para que não sejam engolidas pela cegueira do amanhã.
Este
outro não tem dentro nem fora,
Passeia
pelo fluxo de minhas veias,
Assopra
todo o corpo, arrepiando os pelos,
E
enquanto entra por minhas narinas em forma de ar,
Sai
rapidamente pelos poros;
Sinto
agora me pegando em seus braços,
Me
deixando em suspenso,
E
me colocando em frente a um grande espelho de mim;
É
noite, mas vejo os traços,
Na
dúvida se sou eu mesmo,
Fecho
os olhos,
Que
parecem permanecerem abertos;
Então
encaro os contornos negros,
Enquanto
a voz cochicha palavras que não ouço em uma língua que reconheço,
Re
conheço, Re conheço;
Agora
mais adiante de mim mesmo,
Nem
consigo mais me sentir corpo,
Entro
num puro estado de me sentir sentir;
Enquanto
o outro em mim se despede,
Com
voz melodiosa anunciando que me usou e abusou,
Canta
a canção na voz de Bethânia, que enfim me faz despertar em sono,
“Para
viver em estado de poesia
Me
entranharia nestes sertões de você”....
Ematuir
Teles de Sousa
18/09/15
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