quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O SENTIRES

Ouvindo Maria Bethânia na madrugada,
Despertei um outro em mim,
Um alguém que ainda não sei,
Que ainda não conheço a voz,
Nem sei se conhecerei;
Mas, cochichou algumas palavras,
Palavras feitas de pele,
De contato com tato,
Que agora brotam de um mim,
Feito de pedaços de outros;
Incrustrados nos órgãos,
Revestidos de olhar,
Olhar feito de brilhos,
Resolve brincar de pinçar memórias.
Algumas inventadas,
Que estranhamente não são minhas;
Brinca de segurar meu peito em mãos de cristais,
Deita sob os vazios dos porvires,
Fica de pé, pula e rodopia,
Deixa pegadas de aqui e agora,
Torce e retorce para que não sejam engolidas pela cegueira do amanhã.
Este outro não tem dentro nem fora,
Passeia pelo fluxo de minhas veias,
Assopra todo o corpo, arrepiando os pelos,
E enquanto entra por minhas narinas em forma de ar,
Sai rapidamente pelos poros;
Sinto agora me pegando em seus braços,
Me deixando em suspenso,
E me colocando em frente a um grande espelho de mim;
É noite, mas vejo os traços,
Na dúvida se sou eu mesmo,
Fecho os olhos,
Que parecem permanecerem abertos;
Então encaro os contornos negros,
Enquanto a voz cochicha palavras que não ouço em uma língua que reconheço,
Re conheço, Re conheço;
Agora mais adiante de mim mesmo,
Nem consigo mais me sentir corpo,
Entro num puro estado de me sentir sentir;
Enquanto o outro em mim se despede,
Com voz melodiosa anunciando que me usou e abusou,
Canta a canção na voz de Bethânia, que enfim me faz despertar em sono,
“Para viver em estado de poesia
Me entranharia nestes sertões de você”....

Ematuir Teles de Sousa

18/09/15

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